Estou convencido de que alguns livros inspiram certa saudade antecipada antes mesmo que se leia a última página. À medida que o final se aproxima, por mais que se anseie descobrir o desfecho, toma corpo o lamento pela iminente despedida.
Este certamente é o caso de O Conde de Monte Cristo. Não é fácil vencer as quase mil e quatrocentas páginas dos dois volumes da edição definitiva da editora Jorge Zahar¹, que superou minhas expectativas pela qualidade e inclui belas ilustrações da época de lançamento original, em folhetim. Essa densidade fez com que o livro me acompanhasse por algumas semanas, mais de oito no total, me tornando íntimo das personagens e de suas histórias particulares.
Assim, cada vez que via diminuir o número de páginas faltantes, orientado por um cartão de visitas que utilizei à guisa de marcador, desejava que houvessem mais dois volumes adicionais aguardando no armário.
Naturalmente, trata-se de um desejo paradoxal em um mundo que considera prolixo qualquer texto que ultrapasse os 140 caracteres de uma twitada. Ademais, a rigor, o tal desejo continua sem fazer sentido quando se considera que a melhor parte do romance são os relatos da prisão de Dantès, mais especificamente do seu encontro com o Abade Faria até sua fuga. Poucas boas explicações, porém, advém de ilações tão simples assim.
É certo que a narrativa da fuga, do encontro com os corsários, do achado do tesouro e da vingança evidentemente contribuem para tornar obra ora comentada indispensável, mas nada se compara ao encontro com o velho clérigo italiano.