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domingo, 30 de dezembro de 2012

O Sangue do Ombro de Pallas





Por Daniel Dreiberg

O Texto a seguir é reimpressão do Jornal da Sociedade Ornitológica Americana, outono de 1983.
 
 
Será possível estudar um pássaro tão de perto, observar e catalogar suas peculiaridades em detalhes tão minuciosos, que o mesmo se torna invisível? Será possível que, enquanto medimos fastidiosamente a envergadura de suas asas ou o comprimento de seu tarso, acabamos perdendo a visão de sua poesia?

Será possível que, em nossas prosaicas descrições de plumagens marmóreas ou vermiculadas, perdemos a visão de pinturas vivas, uma sucessão de tons de marrom e dourado que envergonharia Kandinsky ou explosões de luz e cor à altura de Monet? Eu creio que sim. Acredito que, ao estudarmos nosso objeto com a sensibilidade de um estatístico ou de um dissector, nós nos distanciamos cada vez mais das maravilhas e encantamentos da imaginação.